“Labanta braço, bô grita bô liberdadi” (levanta o braço, grita a tua liberdade) ficará para sempre ligado à mítica banda cabo-verdiana Os Tubarões. É este o mote da 8.ª edição do Festival Rotas & Rituais, que terá lugar no Cinema São Jorge, em Lisboa, entre 22 e 29 de Maio.
Uma semana inteira que incluirá documentários, conferências, concertos, uma exposição, e muito mais, numa celebração do 40º aniversário das independências dos países africanos de língua portuguesa.
Aqui ficam os nossos destaques:
[SEXTA, 22 DE MAIO]
Cinema > Sala Manoel Oliveira > 21h30
Realização: Staffan Julén, Marius Van Nierkerk
Documentário, Suécia e Alemanha, 2010, 93’
Sessão com presença do realizador.
Quatro veteranos de diferentes frentes de guerra juntam-se numa viagem de barco pela foz do Rio Kwando, nas profundezas do interior africano. Vinte anos depois, unidos pela assombração comum do trauma da guerra, mas também pela necessidade de entender, conciliar e perdoar, regressam aos campos de batalha, aos lugares onde, ainda jovens, lutaram uns contra os outros.
[SÁBADO, 23 DE MAIO]
Cinema > Sala 3 > 18h00
Realização: Gorka Gamarra
Documentário, Espanha e Guiné-Bissau, 2014, 63’
33 nações, 33 culturas, 33 línguas e uma em comum: o crioulo.
O grupo musical Cobiana Jazz usava o crioulo por razões políticas e sociais e com o objectivo de mobilizar a sociedade a apoiar a luta pela liberdade. Pela primeira vez, os guineenses ouviram uma música que dava voz às suas preocupações sociais e que usava uma língua que todos pudessem entender. Em 1973, com a declaração da independência, deu-se início a um processo inacabado: fazer do crioulo a língua oficial da Guiné-Bissau. É com o mesmo objectivo que hoje a chamada nova geração de músicos luta em conjunto com outros movimentos culturais.
Cinema > Sala Manoel de Oliveira > 21h30
Realização: Lotte Stoops
Documentário, Bélgica, 2010, 70’
Em 1955, foi inaugurado na província da Beira, em Moçambique, o Grande Hotel, uma imponente e luxuosa estrutura que aspirava ser a maior unidade hoteleira de África. Este símbolo da megalomania colonial e da conturbada história de Moçambique, um monstro de 12 000 metros quadra– dos e 110 quartos extremamente luxuosos é, 60 anos depois, o lar de mais de 2 500 convidados permanentes. Desvenda-se a história revolucionária deste país, conhecem-se as condições de vida, as esperanças, alegrias e tristezas de quem lá mora, numa viagem pelo presente e passado de uma cidade dentro de outra cidade.
Baile das Independências com Djumbai Djazz
Música > Foyer > 23h00
Djumbai Djazz nasceu em Lisboa, em 1999, pelas mãos do fundador Maio Coopé, como um projecto musical e de pesquisa que recupera os ritmos perdidos da Guiné-Bissau. A música que tocam pretende ser uma versão vanguardista da música tradicional guineense, cruzando-se com sonoridades da África Ocidental e o seu repertório tem influências do psicadelismo africano, do Bembeya Jazz ou do ritmo Toure Cunda. No foyer do Cinema São Jorge, a banda apresenta-se com seis elementos numa versão de baile que convida a dançar ao som dos ritmos frenéticos do gumbé, das percussões e de uma linha melódica quase mágica marcada pela kora, instrumento africano considerado sagrado e místico.
[DOMINGO, 24 DE MAIO]
Cinema > Sala 3 > 18h00
Realizadores: Anna Tica, Nuno Pedro, Toni Polo
Documentário, Portugal, 2010, 70’
Sessão com presença dos realizadores.
Os pais vieram de uma antiga colónia portuguesa. Os filhos nasceram em Lisboa, mas sentem-se mais cabo-verdianos do que portugueses. Saíram do seu bairro de infância para ir viver para um bairro social. Falam português, mas cedo aprenderam crioulo. Em Nôs Terra, conversam sobre a dualidade e a conflitualidade de pertencer a dois mundos que vivem de costas voltadas, mas que, apesar de tudo, lhes pertencem como um só. É um documentário centrado no processo de construção de um contra-discurso protagonizado por jovens negros portugueses.
Guerrilla Grannies – How to Live in this World
Cinema > Sala Manoel de Oliveira > 21h30
Realização: Ike Bertels
Documentário, Holanda, 2012, 80’
Guerrilha Grannies conta-nos a história de três mulheres guerrilheiras que, ao lutarem com o Destacamento de Mulheres do Exército de Libertação da FRELIMO, não só ajudaram a libertar o país do colonialismo português, como também, abriram caminho à emancipação das mulheres moçambicanas.
[SEGUNDA, 25 DE MAIO]
Africa – History of a Continent
Cinema > Sala 3 > 19h30
Realização: Elikia M’Bokolo, Philippe Sainteny, Alain Ferrari
Documentário, França, 2010, 90’
Integrado numa série, este documentário conta a aventura, singular e colectiva de África de 1900 até ao final do século XX. Uma história alternativa, uma espécie de épico em que o continente africano é simultaneamente o narrador e o herói. Combinam-se entrevistas de algumas das principais figuras africanas com material e registos inéditos. É uma viagem desde a era colonial, dura e incerta, até às grandes aventuras da democracia e da união africana, passando pela efervescência da independência e da guerra civil, o caos do conflito global e a agitação das crises e da renovação cultural.
[TERÇA, 26 DE MAIO]
Kanimambo
Cinema > Sala 3 > 19h30
Realização: Abdelatif Hwidar, Carla Subirana, Adán Aliaga
Documentário-Ficção, Espanha, 2012, 94’
Três directores, três viagens e três visões. Os realizadores aventuram-se num país desconhecido em busca de personagens que os inspirem. Todas as histórias têm argumentos-base completamente distintos, mas estão entrelaçadas por um elemento comum, quase imperceptível, mas fundamental. Kanimambo, que significa obrigada em shangana, língua local, conta, na primeira pessoa, três histórias sobre as diferentes experiências que os realizadores tiveram em Moçambique, país marcado pelo estigma da guerra civil, sequelas do colonialismo português, pobreza e doença onde homens e mulheres são heróis do quotidiano com um único objectivo: lutar por uma vida melhor.
[QUARTA, 27 DE MAIO]
Nástio Mosquito Convida Moço Árabe
Música > Sala Manoel Oliveira > 21h30 > 8 euros
Nástio Mosquito nasceu no Huambo, Angola, em 1981. Foi jornalista, é artista plástico e músico. Naquele que considera ser o seu primeiro álbum, Se eu fosse Angolano, apresenta ao público a sua visão do mundo e de uma Angola plural onde o campo e a cidade se redefinem, onde a sociedade contemporânea toma conta da realidade urbana, ao mesmo tempo que nos reinventamos como nação, como sociedade. Com letras fortes, a música que faz reúne vários géneros musicais, dentre eles o hip-hop, dub, kizomba, kuduro e o rock.
Moço Árabe é o projecto de Guillermo de Llera, artista que se apresenta como artista multidisciplinar e etnomusicologista. No seu mais recente projecto, Moço Árabe, aborda o tema da deslocação dos Moçárabes, cristãos ibéricos que viviam sob o governo muçulmano e que são símbolo da pluri-culturalidade e fusão de filosofias. Com música revolucionária e moderna, Moço Árabe consegue uma fusão musical entre o que é tradicional e o que é invenção, e consequência da falta de referências culturais e do deslocamento e migração forçados.
[QUINTA, 28 DE MAIO]
Música > Sala Manoel Oliveira > 21h30 > 8 euros
Fundado em 1983, o sucesso do grupo moçambicano Ghorwane deve-se, em parte, à sonoridade enérgica e alegre que mistura diferentes ritmos moçambicanos e que contrastava com o ambiente em que o país vivia na época. O activismo cívico, a consciência política crítica, a ousadia e a frontalidade das letras das suas canções levaram a que a banda fosse apelidada de Bons Rapazes por Samora Machel. Em 1990, gravaram Majurujenta, o primeiro álbum da banda, após o convite de Peter Gabriel para participar no festival WOMAD e gravar nos estúdios Real World Records, em Inglaterra. O grupo continua a ser considerado um dos mais importantes do país, conseguindo manter-se activo apesar de ter perdido de forma trágica dois dos seus membros fundadores: Zeca Alage e Pedro Langa.
[SEXTA, 29 DE MAIO]
Conferência > Sala Montepio > 18h00
O que ficou da causa independentista nas gerações seguintes? Como se transporta essa memória para as lutas actuais? Que tipo de resistência cultural se tem praticado?
Com moderação de Marta Lança e participação de Adolfo Maria, Anabela Rodrigues, Carla Fernandes e Virgílio Varela.
Música > Sala Manoel Oliveira > 21h30 > 8 euros
Reconhecido grupo cabo-verdiano que marcou de forma indelével a cultura musical do país de origem, regressa aos palcos para, ao lado de nomes sonantes da música feita nos países de expressão portuguesa, celebrar os 40 anos de independência das ex-colónias. Na ausência de influentes elementos que integraram a última configuração de Os Tubarões, Zeca Couto, Mário Bettencourt, Jorge Lima e Israel Silva, convidaram Albertino Évora (voz), Domingos Fernandes (saxofones), Diego Neves (teclados) e Jorge Martins (bateria), para juntos participarem neste que promete ser um concerto memorável.
[22 a 29 DE MAIO]
Produzido pela jornalista Carla Fernandes e pelo fotógrafo Herberto Smith, o audioblogue Rádio AfroLis é um espaço de expressão cultural produzido por descendentes de africanos a viver em Lisboa. Semanalmente, em formato de entrevista áudio, artistas mais e menos conhecidos, pessoas mais e menos comuns falam sobre negritude, racismo e identidade, expondo as diversas facetas da consciência negra emergente em Portugal.
Sendo a edição deste ano dedicada aos 40 anos das independências dos PALOP, o Rotas & Rituais é o espaço privilegiado para a AfroLis documentar, através de entrevistas e peças de rádio produzidas durante o decorrer do festival, mais um capítulo da experiência africana e negra em Lisboa.
Exposição > foyer do 1.º andar
De Manuel Roberto
Na Guiné-Bissau, foram apelidados de restos de tuga, em Angola, sobras do branco. Não tinham nascido, ou ainda eram crianças, quando os pais deixaram estes territórios. Hoje, andam na casa dos 40 ou 50 anos, mas quando falam do pai português que querem conhecer é como se voltassem a ser crianças, choram enquanto dizem que se sentem meia-pessoa, incompletos. São filhos que os militares portugueses do tempo da guerra colonial deixaram para trás. Estas imagens são de autoria do fotojornalista Manuel Roberto e fazem parte de duas reportagens inéditas divulgadas pelo jornal Público, de autoria de Catarina Gomes, com imagens-vídeo de Ricardo Rezende.
+ informações sobre o Festival aqui